Natalia Domagala, gestora pública no Reino Unido, compartilha três lições importantes sobre conscientização e democratização da tecnologia no momento atual.
Imagine uma bactéria paralisando o mundo e transformando os encontros presenciais e os eventos sociais no maior risco que a humanidade poderia ter. Consegue distinguir? 2020! Agora pense novamente nesse cenário e acrescente a exclusão digital, um isolamento social sem acesso à nenhuma forma de comunicação digital. É sobre isso que precisamos pensar daqui em diante.
Uma grande parcela da população mundial tem acesso à informação por meios digitais, porém uma outra grande parte não tem. Natalia Domagala, que trabalha com política de ética de dados no Government Digital Service no Reino Unido, escreveu um artigo na Apolitical - confira aqui na íntegra - sobre como os grupos mais vulneráveis sofrem como uma verdadeira exclusão digital. "Para muitos, não poder fazer um vídeo chat com a família e amigos significava longos períodos de solidão." comenta Natalia.
Sabemos que a rapidez dos avanços tecnológicos do ano passado foi positiva, mudanças significativas foram implementadas no Brasil e no mundo, aliás já falamos delas por aqui no artigo sobre serviços públicos digitalizados. Natalia tem se preocupado sobre a velocidade da mudança que acaba deixando pouco espaço para explorar qualquer alerta em potencial. "Para refletir sobre o que tem acontecido nos últimos nove meses desde que o vírus começou a se espalhar globalmente, eu gostaria de propor três lições importantes sobre a tecnologia aprendida em 2020, que nós, pessoas que trabalham com política e no setor de tecnologia, devemos considerar urgentemente para esse ano." Confira abaixo sua análise e como podemos incorporá-la na gestão pública.
"As empresas e os governos devem ir além dos princípios e rótulos éticos e incorporar avaliações de ética e privacidade em seu trabalho", destacou Domagala. Sua primeira observação é sobre o desenvolvimento e a implementação de aplicativos sobre o Coronavírus. Ela questiona a confiança que muitos cidadãos tiveram (ou não tiveram) no momento de compartilhar seus dados pessoais em ferramentas que se tornaram vitais para as informações e formas de prevenção da doença.
"Eles devem garantir o consentimento apropriado para o uso e reutilização de dados, fornecer informações de forma proativa sobre como o produto processa os dados que coleta e como os usuários podem contestar suas decisões." pontua Natalia. No momento estamos passando para uma etapa onde precisamos nos cadastrar e agendar para ter acesso a vacinação, esse ponto traz um olhar clínico de onde devemos melhorar nossa forma de agir tecnologicamente.
Por isso, disponibilizamos alguns conteúdos mais completos que falam sobre gestão pública. Deixe o seu melhor e-mail para recebê-los!
A limitação da tecnologia é real e oficial, se ela disse isso referente ao Reino Unido, no Brasil o cenário não é diferente. "Quando a tecnologia se torna essencial para se manter atualizado em uma crise, a exclusão digital tem consequências desastrosas e precisa ser combatida imediatamente." lembra Natalia, afirmando que só em seu país, aproximadamente 19 milhões de famílias não tinham acesso à internet na época que a pandemia estourou. Esse foi um problema que muitos enfrentaram diante de serviços online essenciais, no qual diz respeito desde à informação oficial, aplicativos governamentais até acesso a mantimentos e itens básicos online, compra de comida e vídeos chamadas com amigos e família.
Podemos tirar muitas lições percebendo essa vulnerabilidade social, como priorizar e incentivar a inclusão social, centros comunitários e ações locais. Em São Paulo, antes da pandemia, haviam lan houses públicas espalhadas pela cidade onde os cidadãos podiam usar a internet gratuitamente durante uma hora, mas atualmente esses lugares estão fechados. Natalia sugere que os gestores devem olhar para centros comunitários e pequenas instituições de caridade que possuem pessoas que necessitam de informações e políticas públicas. "Eles podem identificar quem precisa de dispositivos com mais urgência e fornecer orientação e treinamento personalizado sobre seu uso." propõe.
"Devemos trabalhar para melhorar a alfabetização digital do público e fornecer recursos acessíveis para aumentar sua capacidade de entender a tecnologia e suas implicações sociais", comenta. Nada adianta ter o recurso e não saber usá-lo. A capacitação faz parte do desafio de democratizar o uso da tecnologia. Só assim teremos um consumo significativo de produtos e serviços tanto públicos quanto privados.
A sugestão aqui é fornecer cursos gratuitos para adultos interessados entenderem melhor como a tecnologia influencia na própria vida e no mundo de hoje. "Além disso, os desenvolvimentos tecnológicos precisam ser comunicados ao público de uma maneira compreensível e os profissionais de comunicação têm um papel significativo em educar a indústria sobre como conseguir isso", finaliza.
Devemos discutir maneiras de responsabilidade ao fornecer ferramentas tecnológicas no momento de uma pandemia. "A ideia de que a tecnologia pode nos proteger totalmente é mais perigosa do que política ruim ou governo ruim'', completa Linnet Taylor, professora associada do Instituto de Direito, Tecnologia e Sociedade de Tilburg.
Seguimos atentos e compartilhando informação para que o Colab seja esse lugar de transformação, consciência e ações colaborativas. Vamos juntos gerar a mudança e levar novos olhares para uma gestão mais efetiva e afetiva para todos os cidadãos!