Este artigo explica o que é racismo estrutural e o porquê TODAS E TODOS têm o dever de lutar contra ele!
Em primeiro lugar, eu gostaria de ressaltar uma coisa que você já deve ter notado: eu sou uma mulher branca.
Em momento algum quero tirar o lugar de fala de pessoas negras, mas ver que determinadas injustiças se repetem constantemente em pleno século XXI me impede de ficar calada e não lutar contra isso.
A morte de João Pedro, 14 anos, dentro de casa é uma dessas injustiças. A morte de George Floyd, 46 anos, em uma abordagem policial é outra injustiça. No Brasil, o país em que mais pessoas morrem assassinadas, o fato de 77% dos jovens assassinados serem negros é a maior dessas injustiças e a prova de que estamos falhando como sociedade.
Cada vida negra que se perde, graças ao racismo que naturalizamos, é uma injustiça que nunca conseguiremos reparar.
Por este motivo eu tomei a liberdade de escrever, porque é meu dever lutar contra isso. E para lutar, precisamos falar e combater o racismo estrutural.
Mas para falarmos sobre racismo estrutural, precisamos primeiro definir o que é racismo.
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Segundo o dicionário Priberam de Língua Portuguesa, racismo é uma “teoria que defende a superioridade de um grupo sobre outros, baseada num conceito de raça, preconizando, particularmente, a separação destes dentro de um país (segregação racial) ou mesmo visando o extermínio de uma minoria”.
O verbete também fala que trata-se de uma “atitude hostil ou discriminatória em relação a um grupo de pessoas com características diferentes, notadamente etnia, religião, cultura etc”.
O racismo em si se dá pelo mal funcionamento nas instituições e por falhas no Estado. No Brasil, o racismo passou a ser considerado crime em 1989, através da Lei Federal 7.716, que prevê uma pena de até 5 anos de reclusão e multa, sendo também imprescritível e inafiançável.
Infelizmente, nosso país foi construído com base escravocrata, na qual as pessoas pretas eram mercadorias. Mesmo após a lei áurea em 1888, elas não receberam nenhum tipo de indenização ou tiveram políticas públicas voltadas para seu bem-estar e adequação à nova sociedade.
Proibidos de adquirir terras, jogar capoeira, estudar, e sendo constantemente marginalizados, foram jogados à própria sorte. Sua cultura continuou sendo atacada e vista de forma negativa, sua religião enxergada como algo mal. Este foi o contexto do início do racismo estrutural.
Segundo o portal Brasil de Direitos, racismo estrutural é a “naturalização de ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro, e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial”.
Silvio Luiz de Almeida, filósofo, jurista e professor universitário defende que a forma como a sociedade é constituída reproduz parâmetros de discriminação racial, no campo da política e da economia, sendo o racismo estrutural naturalizado como parte integrante do meio social.
O professor também destaca que o racismo é constituído por ações conscientes e inconscientes, e que nós, enquanto sociedade, acabamos naturalizando a violência contra pessoas negras, e que a morte de jovens negros não nos choca como deveria.
Um outro dado alarmante sobre a sociedade no Brasil é que no ano de 2019 65% dos brasileiros desempregados era negro.
Apesar de tudo isso, um dado me causou mais espanto ainda: 52% dos brasileiros se declara negro. Ora, que país que discrimina mais da metade de sua população?
O racismo estrutural pode ser notado na nossa língua, nos nossos gestos, na composição dos Governos.
Falando em Governo, um exemplo rápido: atualmente, o Brasil está no seu 38º Presidente da República. Sabe quantos presidentes negros nosso país já teve? Um. Alguns estudiosos defendem que Nilo Procópio Peçanha foi o primeiro (e até agora único) presidente negro do Brasil. Um país que possui mais da metade de sua população negra, só elegeu um presidente da mesma etnia. Insiro uma foto de Peçanha abaixo, caso você não o conheça.
O racismo estrutural é isso: a desvalorização de pessoas negras e a perpetuação da desigualdade. É a falta de oportunidades, o preconceito, a segregação de mais da metade da população.
Porém, existe uma parte boa nisso tudo: a nossa sociedade está mudando. As negras e os negros estão ganhando voz, estão lutando por seus direitos, estão em busca de equidade.
O Estado é um veículo fundamental de combate ao racismo, já que ele mesmo naturalizou esta prática tempos atrás. É dever do Governo reparar as instituições com políticas públicas de cotas, além de ampliar o acesso à saúde, educação e trabalho às pessoas negras.
É dever do Estado cumprir a lei e criminalizar ações racistas, além de incentivar a população negra a empoderar-se e ocupar os espaços, a tomar posse de seus direitos e de seu lugar de fala.
Mas esta não é somente uma luta do povo negro e do Estado. É dever de todas as pessoas apoiá-los durante esta caminhada, pois como diria Ângela Davis “Não basta não ser racista, é necessário ser antirracista”.
Fale sobre isso, apoie e empodere a população negra, diga não ao racismo, lute com eles. Somos uma só espécie e devemos ser também um só coração na luta contra o preconceito e a desigualdade.