31/10/2022
Governo

Antirracismo: como aplicar a teoria na prática?

Saiba como incorporar práticas de antirracismo no local de trabalho e nas organizações governamentais.

De acordo com Djamila Ribeiro, ganhadora do prêmio Jabuti – Ciências Humanas, e autora do livro Pequeno Manual Antirracista

A ausência ou a baixa incidência de pessoas negras em espaços de poder não costuma causar incômodo ou surpresa em pessoas brancas”.

Essa frase é o início de uma longa conscientização sobre o tema antirracismo e um combustível para gerar a transformação dentro da esfera pública.

O Brasil tem a maior nação negra fora da África, dado que deveria ser “gatilho” para pessoas brancas se chocarem com a realidade atual. Djamila destaca em sua publicação que as pessoas brancas deveriam refletir sobre os privilégios que acompanham sua cor. 

“Isso é importante para que privilégios não sejam naturalizados ou considerados apenas esforço próprio. […] Ainda que uma pessoa branca tenha atributos morais positivos — por exemplo, que seja gentil com pessoas negras —, ela não só se beneficia da estrutura racista como, muitas vezes, mesmo sem perceber, compactua com a violência racial”.

A luta racial não é uma característica somente dos brasileiros, trata-se de um cenário mundial. Pensando nisso, a Equipe de Insights Comportamentais (Behavioural Insights Team), também conhecida como A Unidade Nudge, foi fundada em 2010 com o propósito de desenvolver soluções sustentáveis para desafios políticos, utilizando uma abordagem de insights comportamentais no enfrentamento dos principais problemas políticos com o uso de testes de implementação. 

O trio de colaboradores formado por Sebastian Salomon-Ballada, Michelle Krieger e Lila Tublin, trabalha para melhorar a vida das pessoas e das comunidades, criando parcerias com todos os níveis de governo, organizações internacionais e organizações da sociedade civil. 

Em artigo divulgado recentemente pelo Apolitical, eles abordam práticas e ideias baseadas em evidências que podem auxiliar gestores públicos a promoverem o antirracismo. 

Abaixo, destacamos algumas dessas práticas – baseadas em pesquisas da ciência comportamental realizada pela Equipe de Insights Comportamentais –, nelas são levantadas estratégias de incorporação do antirracismo dentro das organizações e no dia a dia do trabalho de gestores públicos, confira. 

Práticas internas: por uma organização mais antirracista

Metas de diversidade na contratação e no avanço: refletir a demografia específica da população em geral é um objetivo de garantia para estabelecer mudanças internas. O uso de cotas de gênero e auditorias (por exemplo, entrevistar funcionários e candidatos, analisar dados, etc) são processos que podem ajudar a determinar onde as metas são necessárias e como alocar recursos para progredir. 

Nomeação de gerência com foco na diversidade: determinar uma pessoa ou um grupo na identificação de estratégias antirracistas, assim como na revisão dos progressos e na atuação de responsabilizar outras pessoas, pode auxiliar as organizações a se tornarem cada vez mais diversificadas e equitativas. No entanto, para essa ação ser eficaz, os gerentes de diversidade devem ter o apoio da liderança, dos recursos e das autoridades. 

Mudanças institucionais a longo prazo: embora seja importante as iniciativas antirracistas estarem presentes no comportamento individual ou interpessoal, elas podem ser ainda mais impactantes se forem implementadas nas mudanças de política de toda a organização. Exemplo: se um gerente usar uma nova estratégia para alterar o processo de entrevista, mas não for adotada em todo o departamento, terá apenas benefícios limitados. 

Os comportamentos das pessoas são moldados pelo seu ambiente. Se o ambiente deles reforça o status quo, será mais difícil sustentar novos comportamentos antirracistas.

Práticas externas: incorporando o antirracismo ao seu trabalho

Garantia de equidade racial como prioridade desde o ínicio: esforços “daltônicos” que minimizam a raça ou a removem da tomada de decisões podem perpetuar o racismo porque ignoram a realidade de como as decisões podem afetar os grupos de maneira diferente. Garantir que as metas antirracistas sejam claramente definidas desde o início do seu projeto político ajudará a definir o caminho para resultados mais fortes para todos, trazendo políticas que apoiam negros e indígenas, e consequentemente a todos.

Priorizar o lugar de fala dos excluídos nas pesquisas: no desenvolvimento e/ou aconselhamento de políticas públicas, é fundamental incorporar as perspectivas daqueles que a política terá mais impacto. Essa experiência em primeira mão é inestimável e levará a políticas mais inovadoras e eficazes. Esteja certo ao  compensar as pessoas adequadamente por seu tempo e esforço.

Leve em consideração como uma política afetará diferentes grupos: cada política vem com uma consequência que pode afetar diretamente e diferentemente as pessoas a depender da sua raça, sexo, idade e muito mais. Saber examinar os impactos intencionais e não intencionais de iniciativas é vital para o aconselhamento de políticas antirracistas. Principalmente se for através de dados sociais para auxiliar na identificação dos grupos em questão. 

Agora que já sabe na teoria como incorporar ideias antirracistas em ações práticas, é mais fácil entender que tais transformações acontecem no dia a dia em posturas que estão dentro e fora das organizações.

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Antirracismo: como aplicar a teoria na prática?

Lívia Donadeli

Jornalista e gestora de projetos sociais com foco em ESG. Atualmente usa o audiovisual como sua principal ferramenta de narrativas de impacto. Acredita que histórias podem transformar as pessoas e pessoas transformam o mundo.