É comum ouvirmos dizer que as pessoas votam em candidatos e não em partidos, mas será que é assim mesmo que as coisas funcionam? Entenda essa e outras questões sobre regras eleitorais neste artigo!
A escolha de um candidato ou candidata para representar os indivíduos nos espaços de representação política é algo muito importante, pois é esta escolha que pode mudar a vida desse indivíduo representado e de toda a sociedade.
Mas será que todos os eleitores conhecem o caminho do seu voto e como eles podem eleger ou não o seu candidato? E se o candidato escolhido não for eleito, então os seus votos são perdidos ou vão para outro candidato?
Entender todas essas questões e as regras eleitorais é muito importante para se escolher um candidato, para que no final das contas o seu voto não acabe indo para alguém que você não deseja de forma alguma.
É muito comum que os partidos não sejam levados em consideração no momento de escolha de um candidato, e ao invés disso a figura do indivíduo acabe tendo mais peso na escolha dos eleitores. Mas será que isso é algo prudente de se fazer ou será que os partidos dos candidatos também deveriam ser levados em consideração no momento dessa escolha?
A resposta para esta questão é de que nas disputas eleitorais legislativas, ou seja, nas disputas para os cargos de deputados estaduais e federal (que acontecem neste ano) e para vereador (daqui dois anos), a escolha dos partidos dos candidatos importa tanto quanto a escolha do candidato em si.
Isso se deve ao fato de que os votos dos eleitores vão primeiro para o partido do candidato em que ele votou, e na medida em que este partido vai obtendo uma quantidade suficiente de votos para eleger um candidato, os candidatos mais votados do partido vão sendo eleitos.
O quociente eleitoral é o número que determina a quantidade de votos que um partido precisa obter para eleger um candidato.
O seu valor é obtido a partir da divisão da quantidade de votos válidos (exclui brancos e nulos) pela quantidade de cadeiras em disputa.
Assim, se supostamente há 100 mil votos válidos e 10 cadeiras em disputa, então o quociente eleitoral é de 10 mil (100 mil votos / 10 cadeiras = 10 mil), o que significa que um partido precisa de 10 mil votos para eleger um deputado. Caso este partido possua 20 mil votos então ele elegerá dois deputados, e assim sucessivamente.
A quantidade total de votos de um partido é determinada pela soma dos votos de todos os seus candidatos. Depois que essa soma é feita, então se verifica quantas cadeiras cada partido tem direito.
Por sua vez, essas cadeiras vão sendo distribuídas entre os candidatos de um mesmo partido por ordem decrescente de votação, ou seja, os candidatos mais votados de cada partido vão sendo eleitos até que se distribua totalmente a quantidade de cadeiras a que cada partido tem direito.
Suponha que um partido obtenha um total de votos equivalente a três vezes o quociente eleitoral, então ele terá direito a 3 cadeiras e os seus 3 candidatos mais bem votados ocuparão essas três cadeiras.
Isso significa que para um candidato ser eleito não basta que ele obtenha mais votos que os candidatos de outros partidos, mas é necessário que ele também obtenha mais votos que os candidatos do seu próprio partido.
Essa dinâmica eleitoral permite, por exemplo, que um candidato X que seja bem votado dentro de um partido que atingiu o quociente eleitoral seja eleito, e um candidato Y que obteve mais votos que o candidato X não seja eleito pois não ficou bem posicionado em relação aos outros candidatos do seu partido.
Neste mesmo sentido, um único candidato que obtenha uma quantidade de votos muito elevada pode ter votos suficientes para se eleger e eleger outros candidatos do seu partido. Caso esse candidato obtenha uma quantidade de votos equivalente a 3 vezes o quociente eleitoral, por exemplo, então ele terá votos o suficiente para se eleger e eleger mais dois candidatos do seu partido somente com os seus votos.
No entanto, em 2018 apenas 27 deputados dos 513 foram eleitos com os seus próprios votos. Ou seja, a maior parte dos deputados depende dos votos do partido para se eleger.
Portanto, os partidos importam muito no momento de escolha de um candidato, tendo em vista que os votos vão primeiro para o partido e depois para o candidato em si.
Ousaria dizer, inclusive, que uma boa forma de votar seria escolhendo primeiro o partido que te representa, e dentro deste partido o candidato ou candidata que melhor te representa.
Mestre em Administração Pública e Governo (FGV). Bacharel em Gestão de Políticas Públicas (USP). Desenvolve pesquisas sobre políticas de saúde e educação, desigualdades, federalismo, orçamento público e financiamento de políticas públicas.