21/3/2022
Governo

Políticas de Limpeza Urbana: A batalha contra as bitucas

Conheça um projeto (piloto) sueco que recruta Corvos para fazer a limpeza urbana de bitucas de cigarros na cidade de Södertälje.

O Corvo é uma espécie de pássaro que está ao lado dos seres humanos desde a era Viking, quando foi cultuado como o grande informante de Odin (deus da sabedoria, da poesia, da guerra e da morte). Coincidentemente, os mesmos pássaros hoje são recrutados para uma batalha contemporânea, a do combate às bitucas de cigarro.

Uma matéria publicada recentemente no jornal The Guardian chamou nossa atenção. A empresa Corvid Cleaning, sediada na Suécia, está recrutando Corvos que agem voluntariamente para pegar bitucas de cigarro e jogar no lixo, mas você deve estar se perguntando: “O que eu tenho a ver com isso?”. A resposta é, tudo! As bitucas de cigarros são as grandes vilãs ambientais, elas poluem mais os oceanos do que sacolas e canudos plásticos.

No projeto piloto idealizado por Cristian Günther-Hanssen, os pássaros são treinados para recolher bitucas que foram descartadas de forma errada nas ruas e praças da cidade, como forma de redução de custos para problemas voltados ao meio ambiente. A ideia é adestrar os Corvos para fazerem o trabalho em troca de grãos de amendoim. 

Segundo a Fundação Keep Sweden Tidy, são mais de 1 bilhão de bitucas deixadas pelas ruas da Suécia por ano, o que representa 62% de todo o lixo. A cidade de Södertälje gasta em torno de 20 milhões de Coroas Suecas (cerca de 10 milhões de reais) em limpeza urbana. Se ampliássemos isso a nível mundial, como seria?

Estima-se que o número de fumantes no mundo ultrapassa de 1 bilhão e meio de pessoas, essa enorme quantidade multiplicada por bitucas equivale a 12,3 bilhões de bitucas descartadas diariamente. A grande maioria delas são descartadas incorretamente, o que acaba degradando o meio ambiente e, consequentemente, nossa vida.

Trazendo a problemática mais pra perto, em São Paulo, quando foi aprovada a lei antifumo em ambientes fechados, em meados de 2009, o problema se agravou ainda mais, já que os estabelecimentos não se responsabilizam pelos fumantes que estão na calçada, deixando muitas vezes de oferecer cinzeiros e lixeiras apropriadas para a coleta das bitucas.

Existem diferentes formas de acabar com esse mau hábito da sociedade, através de políticas públicas ou iniciativas da própria sociedade civil, que é o caso de Södertälje, com seu projeto piloto de Corvos. Nele, Cristian visa duas esferas diferentes que se complementam: a ambiental e a econômica.

Como ele mesmo disse na matéria, “seria interessante ver como funcionaria a coleta em outros ambientes e também da perspectiva de que podemos ensinar os corvos a pegar pontas de cigarro, mas não podemos ensinar as pessoas a não jogá-las no chão. Esse é um pensamento interessante”, conclui.

A conscientização vem através da informação, faz parte dos gestores serem os propagadores delas, trazendo luz para problemas minimizados do tamanho de uma bituca, mas que na verdade são tão grandes e complexos quanto nossa existência. A solução para o descarte de substâncias como plástico, vidro, papel e metal é a velha conhecida reciclagem. Para bitucas pode ser também um caminho sustentável.

Uma pesquisa feita pela Unicamp mostrou que alguns métodos de reciclagem podem ser eficazes para as bitucas, como por exemplo na indústria siderúrgica, como inibidor de corrosão para o aço. Ela possui eficiência de 94,6% na inibição da corrosão do aço, quando tratada em uma solução com concentração de 10% de ácido clorídrico, sendo necessária, diariamente, a quantidade de cerca de 3.800 bitucas.

Outra alternativa é transformar a bituca em plástico depois de ser tratada com raios gama, para remover as 4 mil toxinas. Nesse processo, as cinzas são esterilizadas, dissecadas e misturadas com a sobre do papel e do tabaco para um fim sem poluição ambiental. A reutilização do plástico vem do filtro, que é composto por acetato de celulose. 

Essas são algumas das práticas de combater as bitucas de cigarro, um problema que não é só dos Corvos ou de quem é fumante, ele é de todos nós. A intenção do Colab é incentivar iniciativas como estas para que gestores públicos saibam como podem contribuir de forma criativa e inovadora em resoluções de problemas sociais, ambientais e econômicos.  

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Políticas de Limpeza Urbana: A batalha contra as bitucas

Lívia Donadeli

Jornalista e gestora de projetos sociais com foco em ESG. Atualmente usa o audiovisual como sua principal ferramenta de narrativas de impacto. Acredita que histórias podem transformar as pessoas e pessoas transformam o mundo.